VOUZELA, 14 de Julho de 2025
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Rio Troço – do Passado ao Presente

29 de Março 2021

O denominado Rio Troço (popularmente Rio Trouxe) é uma corrente de água, originada na Serra da Muna, Freguesia de Lordosa, desaguando no Rio Vouga, nas proximidades da povoação de Negrelos da Freguesia de S. Pedro do Sul, encontrando-se na época invernal, com belas quedas de água em alterosas enchentes.

As águas do seu leito percorrem, no sentido este-oeste, áreas das seguintes freguesias: Lordosa, Campo, Bodiosa, Ribafeita, do Concelho de Viseu; S. Miguel do Mato e Figueiredo das Donas do Concelho de Vouzela; uma porção de terrenos da Freguesia de S. Pedro do Sul.

No âmbito geológico e geográfico, existe um grande desnível entre a zona da sua nascente e a da foz e íngremes desfiladeiros, sobretudo nos baldios da Frádega, visíveis do adro da Capela do Senhor da Agonia e da Capela de Santa Bárbara. Perto da foz, desliza entre colinas escarpadas, visíveis do Mirante da Pedreira. Visualizando o seu atual percurso, constata-se que, durante os milhões de anos de existência, as suas águas: penetraram, desgastaram e deslocaram rochas; alinharam vales, originaram pradarias, formaram interessantes e vistosas cascatas; foram habitadas por peixes que serviram de alimento a numerosos agregados humanos, que se fixaram nas suas proximidades para lá viverem.

De tudo isto, há vestígios que vão dos tempos pré-históricos aos históricos, mais e menos recuados, sendo dignos de estudos aprofundados e divulgados com bom senso e sem euforias de circunstância.

Na atualidade, a sua água corrente não tem sido mantida limpa, por ser conspurcada por frequentes e maléficas descargas tóxicas, lançadas algures a montante. Por isso, já não se encontram peixes nas suas águas; a arborização do leito e das margens tornou-se um matagal ensilvado e impenetrável; os trilhos fluviais (carreiros), tão interessantes e vantajosos para caminhadas em túneis de verdura, desapareceram; os moinhos de rodízios de água estão em ruínas e escancarados sem a devida proteção para pessoas e animais.

Sabe-se que os progressos civilizacionais e económicos substituíram, e bem, algumas práticas então em uso. Disso, não há dúvidas, mas o que agora está em causa é a preservação e valorização de um património natural e civilizacional comum que está a degradar-se não só devido à maldade de uns tantos, mas também à incúria e inoperância de outros.

Em face de tudo isto, em tempo de inverno e proximidade de eleições autárquicas, penso ser oportuno lembrar a quem de direito e de dever que projete e assuma algo que contribua para a salvação do Rio Troço, nomeadamente para: a água deste rio volte a ficar limpa e povoada de peixes; o seu leito e as suas margens ficarem com as suas árvores em boas condições higiénicas; haver trilhos ribeirinhos que, no todo ou em parte, permitam usufruir do que de bom e belo tem este rio; todos os antigos moinhos, agora em lastimosas ruínas, serem limpos e referenciados de acordo com os verbetes dos registos, existentes na Repartição de Finanças do Concelho de Vouzela; tanto na área pertencente à Freguesia de S. Miguel do Mato, como na da Freguesia de Figueiredo das Dornas, vir a ser reparado, pelo menos, um desses moinhos, para dar a conhecer, a quem quer que seja, o seu modo prático de funcionamento e de utilização, à semelhança do que está a ser feito em alguns municípios do país, para, além do mais, serem visualizados turisticamente nas proclamadas Rotas dos Moinhos.

Fernando Vale (Viseu)


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