“Na altura da matança do porco, guardava-se sempre a bexiga do porco, que era para encher de ar, para dar chutos, pois ficava como uma bola!”. Adriano Ferreira recorda uma das muitas brincadeiras de criança na longínqua década de 1940. O Correspondente de Destriz do Notícias de Vouzela, de 73 anos, foi um dos três entrevistados pelos alunos do 6ºA da Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades, no âmbito de uma actividade de sensibilização sobre os jogos e brincadeiras de antigamente e as suas diferenças entre rapazes e raparigas.
Além da bola de bexiga, havia a de “farrapos bem apertados”. Também se jogava à malha e à cabra-cega, conta Adriano, que chegou a andar numa “mota de pau”, sem motor mas com travões.
Em Cajadães, Norbinda Capela, de 81 anos, brincava ao ‘lenço cai no chão’, à ‘buraca’, ao ‘caracol’, às ‘escondidas’ e ao ‘anelzinho’. Já António Batista, 85 anos e a viver de Rebordinho, jogava ao pião, ao caracol e à apanhada, entre outros passatempos. As meninas, recorda, gostavam da ‘roda do lenço’ e de saltar à corda. Como muitos do seu tempo, António andou apenas três anos na escola. “Havia muito trabalho para fazer nos campos e o dinheiro era pouco”. No fim das aulas, ia com as ovelhas para o campo e carregava água para casa.
Também Norbinda saiu cedo da escola – tinha oito anos – para “tomar conta” do lar. A morte da mãe obrigou a que assim fosse. Gostava de bordar e fazer renda enquanto pastava as ovelhas. Sonhou ser professora, depois enfermeira.
Adriano não fugiu à regra. Desde muito novo que teve de ajudar na agricultura, construindo, inclusive, uma tramela para espantar pássaros das terras de milho. Sobre as brincadeiras de outrora, diz que eram “positivas”. “Inventávamos e construíamos. Nós vivíamos muito mais a pensar em fazer coisas novas. Agora é só tecnologia e não vão a lado nenhum!”.
As três entrevistas foram feitas no âmbito da disciplina de Cidadania, ao abrigo do tema ‘igualdade de género’. “Como sugestão de actividades de sensibilização, as crianças são convidadas a reflectir sobre os jogos e brincadeiras que os rapazes e as meninas costumam fazer actualmente, contrapondo com o antigamente. Sugeri, e os mais curiosos aceitaram, que entrevistassem pessoas mais velhas para mostrarem à turma, as diferenças entre jogos de rapazes e de raparigas”, explica a professora Ria Fernandes.
A responsável acredita que o trabalho “poderá contribuir para a tomada de consciência dos estereótipos de género”.