A transformação digital da actividade turística é importante, mas os empresários devem pôr as pessoas em primeiro lugar. Esta foi uma das conclusões em destaque na 2ª edição da Conferência Hotel 4.0 Talks, promovida pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), que decorreu esta segunda-feira em Coimbra.
O evento contou com a participação de várias figuras do sector do turismo, entre as quais o presidente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado, que destacou a necessidade de a discussão sobre este tema incluir a nova agenda da sustentabilidade. “Esta sustentabilidade tem para nós várias premissas. A primeira está relacionada, naturalmente, com o negócio da actividade do turismo e passa pela sua sustentabilidade económica. Mas a sustentabilidade tem também de ser cultural e social. Quando projectamos o mundo para 2050, percebemos que há alterações profundas que vão naturalmente surgir desta agenda da sustentabilidade”, referiu.
O vice-presidente da AHRESP e administrador do grupo O Valor do Tempo, Tiago Quaresma, realçou que o turismo é um protagonista da transformação digital. “O turismo, e a hotelaria em particular, são sectores que, há muito, lideram esta transformação”, especificou, alertando que “não podemos ver a tecnologia como um fim em si mesmo”, pois “a digitalização ajuda a simplificar as soluções, mas a digitalização não é desumanização: as pessoas serão sempre essenciais no processo”. “Com esta transformação”, frisou, “estamos a caminhar para um futuro em que as pessoas irão ocupar funções onde realmente acrescentam valor”.
A mesma mensagem foi passada pelo painel de discussão e debate subordinado ao tema “A Transição Digital Como Fator de Sustentabilidade no Turismo”. O CEO da Birds & Trees, Luís Ferreira, referiu que a transformação digital em curso e a recente pandemia alteraram o panorama geral. “O mercado do turismo mudou. O mercado de 2021 não é o mesmo de 2019. Os turistas estão cada vez mais selectivos e autónomos. Hoje, três quartos do tempo da compra de uma viagem são usados sem contacto com empresas, pelo utilizador, sozinho. O turista está, muitas vezes, mais digitalizado que o hotel”.
Outro dos intervenientes foi a professora Dina Ramos, da Universidade de Aveiro, que destacou que a transformação digital cria oportunidades nos territórios de baixa densidade e que “não é por acaso” que estes “estão a ser escolhidos pelos novos nómadas digitais”. Já o director executivo do Centro de Inovação do Turismo, Roberto Antunes, notou que “nem tudo precisa de ser digitalizado”. “É preciso conhecer o cliente e perceber o que ele quer que esteja digitalizado. A digitalização não deve estar à frente das necessidades, mas sim o contrário”, sublinhou.
O encerramento da cerimónia esteve por conta do presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, o qual salientou que Portugal está bem colocado a nível de digitalização do sector turístico, mas que o país pode melhorar “e proporcionar melhores experiências aos turistas”. “O digital ajuda-nos a ter experiências fluidas, mas o digital não é o que nós queremos, mas sim o que os clientes querem. Por isso, a transição digital só faz sentido se as pessoas forem as suas beneficiárias”, concluiu.