VOUZELA, 20 de Junho de 2025
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No lugar das plantas: Sobreira e Sobradinho

6 de Novembro 2021

Árvore nacional desde 2011 e legalmente protegida, o sobreiro é uma das espécies mais abundantes e economicamente importantes no país, não sendo assim de surpreender que empreste o nome a múltiplas localidades. No concelho de Vouzela, Sobreira ou Sobradinho são o exemplo de topónimos que remetem para a presença do sobreiro neste território.

O sobreiro é uma espécie da família dos carvalhos, de nome científico Quercus suber, que pode atingir os 15 metros de altura e chegar aos 500 anos de idade. Cresce preferencialmente em solos ácidos e permeáveis, em locais quentes e com influência oceânica. No concelho de Vouzela, é frequente em boa parte do território com exceção dos locais a maior altitude. É uma planta de folha persistente, o que contrasta com as outras espécies de carvalho que ocorrem em Vouzela, que são de folha caduca. Apesar disso, uma folha de sobreiro dura relativamente pouco tempo, menos de dois anos, podendo estas cair quase em simultâneo no início da Primavera. Nessa altura é comum ver sobreiros com todas as folhas velhas a adquirir tonalidades amareladas, caindo ao mesmo tempo que uma nova geração de folhas está a crescer.

A característica mais conhecida desta árvore é a produção de cortiça, um tecido morto designado em botânica por felema ou súber e que corresponde à camada mais externa da casca. Este material é produzido pela felogene, um tecido que, no sobreiro e contrariamente à maioria das outras árvores, está ativo durante toda a sua vida. As células da cortiça, espessas e preenchidas por ar, conferem a este material as suas conhecidas propriedades elásticas, impermeáveis e isolantes. A cortiça desempenha importantes funções na árvore, protegendo-a contra danos físicos, o ataque de organismos patogénicos, a perda de água e a excessiva radiação solar. A cortiça, bem como a presença de rebentos dormentes nos ramos, um caso único entre as árvores nativas, conferem ao sobreiro uma extraordinária capacidade de resiliência aos incêndios. As profundas irregularidades da superfície da cortiça constituem também locais onde múltiplos organismos encontram abrigo e vivem.

O sobreiro dá flor a partir de meados de março até finais de abril, produzindo frutos, as bolotas ou landes, que amadurecem durante um período alargado desde setembro a fevereiro, com um pico em novembro. Esta produção alargada no tempo faz das bolotas do sobreiro um importante recurso alimentar para a fauna selvagem, como pombos e javalis, para o gado e até para os humanos. Dos animais que as consomem, é de destacar o gaio pela sua importância como dispersor de bolotas a longa distância, sendo que, destas, algumas vão germinar e originar uma nova árvore noutro local.

José Costa & António Carmo Gouveia*

 

*Texto escrito no âmbito do consórcio F4F – Forest for Future do serQ, projeto PP20, coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.

 


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