VOUZELA, 3 de Dezembro de 2023
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No lugar das plantas: Póvoa de Codeçais

14 de Agosto 2021

Em Vouzela, na freguesia de Fornelo do Monte, encontra-se uma aldeia, Póvoa de Codeçais, cujo nome é uma combinação dos substantivos “Póvoa”, que significa pequena povoação, e “Codeçais”, que provém de codeço ou codesso.

Codeço é um dos nomes comuns dado às plantas do género Adenocarpus – do grego aden (“glândula”) e karpos (“fruto”), aludindo às suas vagens cobertas por glândulas escuras. Das seis espécies que ocorrem no território nacional, na região de Vouzela podem ser encontradas duas espécies, Adenocarpus complicatus e Adenocarpus lainzii, que se distinguem principalmente pela ausência (na primeira espécie) ou presença (na segunda) de pêlos glandulosos castanhos na estrutura que protege as flores, o cálice. Ambas as espécies assumem a forma de arbusto que podem atingir até cerca de 3 metros de altura, com uma estrutura ereta e muito ramificada. Entre maio e finais de julho, o codeço exibe flores de um amarelo intenso e ricas em pólen (mas sem néctar) que atraem insetos polinizadores como a abelha-do-mel. Após a polinização, produzem frutos – as vagens – que, uma vez maduros e desidratados, se abrem de forma explosiva para dispersar as sementes.

As duas espécies de codeços crescem em solos relativamente profundos e ácidos, com baixa fertilidade e pobres em azoto. São espécies características de espaços perturbados (habitats a que os botânicos chamam ruderais), como margens de caminhos e de bosques, terrenos desflorestados ou atingidos por incêndios, campos abandonados, taludes, e locais de depósito de entulhos. Estas plantas desempenham um papel importante como espécies colonizadoras onde formam matos altos em associação com outras espécies arbustivas, muitas vezes de forma dominante. Contribuem assim para mitigar o efeito da erosão no solo e protegem espécies mais sensíveis sob condições stressantes (por ex., calor de verão), facilitando o desenvolvimento do futuro bosque no processo de sucessão ecológica. Tal como outras espécies da família das leguminosas (ex.: a giesta, o tremoço, as ervilhas), os codeços dispõem de uma vantagem ecológica muito importante para serem bem-sucedidos nestas zonas ruderais: estabelecem uma relação mutualista com bactérias fixadoras de azoto atmosférico – os rizóbios – que se instalam nas raízes da planta e que têm a capacidade de aumentar a quantidade de azoto no solo, contribuindo assim para um aumento da sua fertilidade.

Devido à robustez dos seus ramos, dos codeços eram feitas vassouras para varrer superfícies duras de exterior, como entradas de casas, pátios e estábulos. Para além disso, possuem um grande potencial ornamental, o que aliado ao seu caráter autóctone, portanto adaptado às condições climáticas locais, torna estas espécies a considerar em jardinagem com baixo consumo de água – a xerojardinagem – e um aliado na manutenção da biodiversidade em espaços urbanos.

José Costa & António Carmo Gouveia*

*Texto escrito no âmbito do consórcio F4F – Forest for Future do serQ, projeto PP20, coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.

 


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