Tal como as plantas espontâneas, também podemos encontrar plantas cultivadas na origem de diversos topónimos. No concelho de Vouzela, Figueiras, na freguesia de Ventosa, ou Figueiredo das Donas são topónimos cuja origem estará na figueira-comum ou simplesmente figueira, da espécie Ficus carica.
A figueira é uma das culturas mais antigas de que há conhecimento. Trata-se de uma pequena árvore de folha caduca extremamente adaptável, mas que prefere solos ricos, com boa drenagem e ligeiramente alcalinos, sendo amplamente cultivada pelos seus “frutos”, os figos.
Apesar de ser uma planta que encontramos por toda a parte e os figos serem uma iguaria consumida com tanto gosto e em tantas formas (frescos, secos, em calda, compotas!), a ecologia da figueira está repleta de factos pouco conhecidos.
Se não as vemos, como pode a figueira produzir frutos sem flores? Na realidade, não só a figueira produz flores como o figo não é um fruto, mas sim uma estrutura oca que contém as flores no seu interior, as quais dão origem aos frutos após serem polinizadas. Assim, os verdadeiros frutos da figueira estão no interior do figo e são o que chamamos vulgarmente de sementes.
Mas se as flores estão encerradas no interior do figo, como é feita a sua polinização? Afinal de contas, estas estão aparentemente inacessíveis aos polinizadores. A polinização da figueira é feita exclusivamente por uma pequena vespa, que acede às flores ao entrar no figo pelo orifício que este tem na sua base. Esta vespa entra nos figos de figueiras “bravas” para se reproduzir. No entanto, as vespas podem também entrar nos figos das figueiras cultivadas, onde as vespas polinizam as flores, mas acabam por morrer sem se reproduzir.
Alguns cultivares de figueira necessitam inclusivamente desta visita das vespas para produzirem figos. Assim, em muitos locais era comum plantar figueiras “bravas” nas proximidades das figueiras cultivadas para assegurar a presença da vespa. No entanto, a maioria das variedades cultivadas de figueira são capazes de produzir figos sem polinização. Uma vez maduros, os figos atraem um grande número de animais, entre aves e mamíferos, que os consomem avidamente e que podem contribuir para dispersar as suas sementes.
José Costa & António Carmo Gouveia*
*Texto escrito no âmbito do consórcio F4F – Forest for Future do serQ, projeto PP20, coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.