Presente em praticamente todo o país, o medronheiro, também conhecido como ervedeiro ou êrvedo, é uma espécie que influenciou o nome de muitas localidades. O concelho de Vouzela não é exceção e nele podemos encontrar a aldeia de Ervedal, na União das Freguesias de Fataunços e Figueiredo das Donas, que significa “local onde abundam êrvedos”.
O medronheiro, de nome científico Arbutus unedo, é um arbusto ou pequena árvore que geralmente não passa dos sete metros de altura. Muito versátil, cresce em vários tipos de solo, preferindo, no entanto, solos ácidos em locais amenos e com alguma humidade. De folha larga e persistente, é uma espécie relíquia das florestas subtropicais que cá existiam antes das últimas glaciações e que se adaptou à secura estival do clima mediterrânico. Também o loendro (Rhododendron ponticum subsp. baeticum) é um sobrevivente deste tipo de floresta tendo conseguido persistir apenas em refúgios climáticos.
O medronheiro é uma planta com uma enorme importância ecológica uma vez que contribui para a recuperação de solos degradados através do aumento da sua fertilidade e facilitação do estabelecimento de outras plantas, como os carvalhos. Apresenta igualmente uma enorme resiliência ao fogo, rebentando vigorosamente após um incêndio. As suas folhas são também uma importante fonte de alimento para muitos animais, como a borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius), a maior borboleta diurna da Europa. Uma característica interessante do medronheiro é o facto de, no outono, produzir flores e frutos ao mesmo tempo. De outubro a dezembro, produz abundantes flores que são muito procuradas por insetos, como as abelhas. Nessa altura, os frutos do ano anterior amadurecem, sendo alimento de múltiplas espécies de animais, desde insetos a aves e mamíferos, muitos dos quais contribuem para dispersar as suas sementes.
Os seus frutos, os medronhos, ricos em antioxidantes, têm fama de embriagarem quando consumidos em excesso. Isto acontece porque, quando bem maduros, os medronhos fermentam e acumulam uma certa quantidade de álcool. Esta característica tornou-os muito apreciados pelo Homem, que os utiliza tradicionalmente no fabrico da famosa aguardente de medronho. Contudo, os medronhos podem ser usados para múltiplos outros fins, como o fabrico de vinagre, compostas, em doçaria, ou para consumo em fresco ou desidratados. Este leque de utilizações leva a que o medronheiro seja cada vez mais plantado pelos seus frutos. Para além disso, o medronheiro é uma excelente planta para jardinagem, sendo muito ornamental e adaptada ao nosso clima, necessitando por isso de poucos cuidados.
José Costa & António Carmo Gouveia*
*Texto escrito no âmbito do consórcio F4F – Forest for Future do serQ, projeto PP20, coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.