VOUZELA, 23 de Março de 2025
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No lugar das plantas: Carvalhal de Vermilhas, Rebordinho e Cercosa

31 de Julho 2021

A relação das sociedades humanas com as várias espécies de carvalho é robusta e muito antiga, desde a ligação mitológica e usos medicinais, até à exploração da sua madeira para carvão, tanoaria, marcenaria ou carpintaria, e a utilização da bolota na alimentação. Como a mancha florestal do concelho de Vouzela seria naturalmente dominada por carvalhos, neste primeiro texto exploramos a memória destas árvores inscrita nos nomes locais. É o caso de Carvalhal de Vermilhas, Rebordinho e Cercosa.

Enquanto, rapidamente, relacionamos carvalhal com a presença de carvalhos, as palavras Rebordinho, que a partir de robur designa um pequeno bosque de carvalhos, ou Cercosa têm uma origem menos evidente. Cercosa deriva de cerquinho ou cercal, um bosque de cerquinhos. Hoje em dia, cerquinho é mais utilizado como nome comum para a espécie Quercus faginea, com ampla distribuição no nosso país, mas que não cresce nesta região.

No concelho de Vouzela, ocorrem duas espécies de carvalhos de folha caduca: o carvalho-alvarinho ou comum, de nome científico Quercus robur e o carvalho-negral, o Quercus pyrenaica. São fáceis de distinguir pela presença ou ausência de pelos – a que os botânicos chamam tricomas – nas folhas: ausentes nas folhas do carvalho-alvarinho, enquanto o negral tem folhas visivelmente tomentosas, outra palavra dos botânicos para “peludas”.

Os carvalhais formados por estas espécies são bosques com enorme importância paisagística e ecológica: estes ecossistemas influenciam o microclima local, amenizando extremos de temperatura e aumentando a humidade no ar. Estas condições, permitem que sob as árvores outras espécies menos resistentes a ambientes quentes e secos possam sobreviver, o que aumenta a biodiversidade. A grande quantidade de folhada que anualmente cai das suas copas aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo, que fica mais fértil e húmido e onde aparecem cogumelos com grande valor comercial.

Para além disso, os carvalhos fornecem alimento a muitos seres vivos. Nos meses de floração, em março e abril, são uma fonte de pólen muito procurado pelas abelhas-do-mel. Em outubro e novembro, as bolotas são uma fonte de energia muito importante para um grande número de animais, desde roedores e javalis até aves.

Destes animais, podemos destacar o gaio que tem um papel fundamental na dispersão do carvalhal: cada gaio pode enterrar até 5000 bolotas para consumir ao longo do inverno e primavera; por sorte, muitas escapam a esse destino e estas sementes acabam por germinar na primavera seguinte, podendo dar origem a uma nova árvore.

A área de carvalhal tem vindo a aumentar devido ao abandono dos espaços rurais. Apesar destes bosques serem extremamente resilientes, há vários fatores que ameaçam a sua integridade: a plantação de monoculturas com mobilização desadequada do solo, a ocorrência de incêndios intensos, os cortes rasos e o alastramento de espécies invasoras, riscos que devemos minimizar para garantir a manutenção de carvalhais saudáveis.

José Costa & António Carmo Gouveia*

 

*Texto escrito no âmbito do projeto F4F – Forest for Future (PP20), coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.

 


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