Se muitas são as plantas individuais que emprestam o seu nome a lugares, também há muitos topónimos que tomam o nome de determinadas formações vegetais constituídas por diversas espécies. No concelho de Vouzela, podemos mapear vários exemplos nesta categoria.
Na freguesia de Queirã, encontramos a localidade de Carregal. A origem deste topónimo não é consensual. Para alguns investigadores, este nome remete para um local com abundância de rochas ou terreno pedregoso. Para outros, “carregal” derivará de caricale, sendo o local onde crescem carregas, um dos nomes dado às plantas do género Carex, um tipo de plantas herbáceas que crescem em locais húmidos. Têm normalmente caules triangulares, e algumas espécies podem atingir mais de 1 metro de altura.
O topónimo de Prado, na freguesia de São Miguel do Mato, estará relacionado, como o nome indica, com a presença de prados, os quais são áreas dominadas por plantas herbáceas de vários tipos, semeadas ou espontâneas.
Os topónimos de Mouta e Touça, por seu lado, estarão relacionados com áreas de matagal denso. No caso de “touça”, trata-se provavelmente de uma referência a áreas de matagal alto e denso, que se destacam no meio envolvente, mas também pode referir-se a varas de castanheiro ou outra árvore ou mesmo à cepa de uma árvore cortada.
Estas comunidades vegetais, tão diferentes entre si, são importantes na manutenção da biodiversidade a elas associada e apresentam grandes benefícios para as sociedades. Crescendo frequentemente em terrenos pantanosos e margens de cursos de água, as carregas contribuem para a purificação da água e proteção do solo contra a erosão. Os prados são áreas de grande produtividade vegetal, muito ligados à criação de gado, frequentemente ceifadas ou pastoreadas. Dependendo da sua composição florística, ou seja, as espécies de plantas que neles ocorrem, os prados podem ser locais ricos em alimento para várias espécies de polinizadores e numerosos animais herbívoros, desde insetos a mamíferos, bem como aos seus respetivos inimigos. Muitos predadores de sementes, como aves granívoras, tiram partido da abundância de plantas herbáceas nestes habitats. As manchas de matagal também são importantes na manutenção da biodiversidade, assumindo um especial papel perto de zonas agrícolas ao constituírem locais de abrigo, reprodução e alimentação suplementares para diversos animais que se alimentam de organismos considerados pragas em campos limítrofes.
À escala da paisagem, a presença de formações vegetais distintas, desde prados e pastagens até zonas de matos e bosques, numa estrutura em mosaico, permite a ocorrência de altos níveis de biodiversidade. Ao promover a descontinuidade de uma monotonia paisagística, dificulta ainda a propagação de perturbações, como doenças e incêndios, constituindo-se assim uma paisagem multifuncional e biodiversa de que todos beneficiamos.
José Costa & António Carmo Gouveia*
*Texto escrito no âmbito do consórcio F4F – Forest for Future do serQ, projeto PP20, coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e pela Vouzelar, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FSE.