VOUZELA, 18 de Janeiro de 2025
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Lafões revive tradições pascais

9 de Abril 2023

É a Páscoa um momento alto na vida das pessoas e comunidades de Lafões, tal como o é em muitos outros locais. Nestas curtas notas, é das nossas terras, porém, que vamos falar, ainda que de uma forma genérica e com muitas omissões, disso estamos certos, pelo que desde já pedimos desculpa por esse facto.

Começando por abordarmos esta quadra festiva alguns tempos antes, recuando à Quaresma, esse tempo de caras tristonhas, sem grandes festanças e nada de bailaricos, logo encontramos o jogo das comadres e dos compadres, em que os rapazes e as raparigas, escolhidos os pares, tratavam de pôr as “rezas” só quando se não estava debaixo de telhas. Surgia então um velho truque, uma certa artimanha, que era a de usar um caco na cabeça, facto que impedia que se fosse “castigado”, porque, no final, estava e causa um prémio para o(a) vencedor(a). Outra tradição, muito em voga sobretudo nos meios rurais, tinha a ver com o jejum ou a abstinência, isto é, uma certa contenção na comida e, em concreto, o não uso de carnes às sextas-feiras. Para evitar esse sacrifício, se se pagasse uma bula à Igreja, tudo era permitido…

Outra forma de se mostrar uma vivência especial como forma de vincar marcas culturais identitárias eram os cantos do Amentar as Almas, casa a casa a pedir para as Almas Santas, ou então apenas nos cruzamentos dos caminhos, tradição que hoje se está a tentar divulgar e preservar com os encontros concelhios com essa mesma finalidade, ou até com a edição de obras escritas e musicadas destinadas a perpetuar tais práticas.

Em Domingo de Ramos, oito dias antes da Páscoa, os templos enchiam-se de verdura e flores, às vezes em ramos imponentes, sendo norma, pelo menos, cada fiel levar o seu raminho.

Ao entrar-se na Semana Santa, na nossa juventude lembramo-nos de se guardarem, como dias santos, as tardes de quinta e sexta-feira santas, facto que veio, depois, a ser alterado para apenas um dia só: a citada sexta-feira, mas de manhã à noite. Por esses dias, as cerimónias religiosas eram bem demoradas, havendo em muitos casos as Endoenças (da minha aldeia ia-se a Campia) e as procissões. Imperava o recato e o recolhimento.

Chegados a sábado, como que nascia um novo sol: tudo se conjugava para um Domingo de Páscoa em grande festa, em roupa nova a estrear e tantas vezes com os sapatos a darem cabo dos pés. Com os bolsos cheios de amêndoas, a pequenada corria de rua para rua, depois da Missa, ou mesmo de casa em casa, acompanhando as célebres e emotivas visitas pascais, primeiro e durante anos a fio com os Párocos e, nos tempos mais próximos, já com grupos de leigos. Antes ainda, na zona de Lafões, em sábado de Aleluia, havia o bom costume de os lafonenses reunirem em convívio e Almoço da Amizade, sucessivamente em cada concelho de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, rotativamente, o que deixou de ser feito com a pandemia e que importa reavivar…

Entretanto, como era requerida a presença dos Padres em cada casa, tinha de se estender o tempo das Visitas para Domingo de Pascoela, ou para a segunda-feira da Páscoa, dia feriado nas localidades onde tal acontecia. Com garridos e apressados cortejos pascais, de cada morada se levavam ovos, rebuçados ou amêndoas, tendo debicado um bocado de bolo ou bebericado um “calicito” de Vinho do Porto ou afins. Recolhiam-se ainda os envelopes e as moedas que estavam nas laranjas, em fendas abertas para esse efeito.

Momentos familiares e de amigos, as casas enchiam-se de gente para beijarem o Senhor, havendo quem o fizesse em locais sucessivos e diversos. Nesse festivo Domingo, ouviam-se, aquém e além, os foguetes, sendo que, por exemplo em Queirã, essa prática era usual à entrada do Cortejo Pascal em cada povoação. Costumes também muito habituais eram os cânticos entoados quase sem cessar.

Soltada a tampa das restrições quaresmais, as nossas aldeias viviam então uma enorme alegria e as festas e os bailes eram mais que muitos.

A mesa farta e bem recheada de iguarias diversas e das mais ricas carnes, como os borregos e os cabritos, ou qualquer tipo de rancho melhorado, era outra das marcas destes tempos de flores e verdura no chão, como que a dizer que esse era um ponto para ser visitado em portas escancaradas a toda a gente…

 


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