O tecido empresarial ligado à floresta é um indicador da importância económica deste ecossistema. Em paralelo, o emprego florestal cria valor essencial para contrariar o despovoamento das áreas rurais.
Desde a exploração no terreno ao comércio de produtos florestais, passando pelas indústrias que transformam a matéria-prima em produtos indispensáveis ao dia a dia, a floresta portuguesa é uma fonte de riqueza transversal aos sectores primário, secundário e terciário. Este valor abrangente reflete-se também na dimensão do emprego florestal e empresas criadas: mais de 100 mil pessoas ao serviço, distribuídas por mais de 20 mil empresas.
Veja-se as estatísticas oficiais. Em 2016, o sector representou 3% do emprego nacional, com mais de 111 mil pessoas diretamente ao serviço da silvicultura, indústria e comércio de base florestal. Em 2017 – o último ano sobre o qual existe, à data, informação oficial – silvicultura e indústria somam mais de 88 mil pessoas empregadas, mais 2759 do que no ano anterior. Faltam ainda os dados sobre o emprego no comércio de base florestal (ainda não disponíveis na Síntese Económica Setorial do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Tomando como referência 2016, o sector empregava mais de 110 mil pessoas de forma direta.
Estes valores, resultantes das Estatísticas de Emprego do INE e da Síntese Económica Setorial do ICNF, são apenas uma parte da real empregabilidade florestal. Num sector em que o perfil de trabalho é frequentemente sazonal e informal, muitos dos empregos permanecem como atividades ocasionais e fontes de rendimento extra, complementar a outras ocupações.
Quanto às empresas do sector, verificam-se tendências similares. As indústrias de base florestal concentravam, em 2016, perto de 10 mil empresas (0,83% de todas as empresas portuguesas), um número que diminuiu ligeiramente em 2017. Seguia-se a silvicultura, responsável por mais de 8 mil empresas em 2016 (0,69% do total) e com uma evolução positiva em 2017. O comércio de base florestal fecha este ‘triângulo da floresta’, com quase 6 mil empresas em 2016 (tal como no emprego, ainda não existem dados de 2017 na Síntese Económica Sectorial do ICNF).
No total, a economia da floresta estava assente, em 2016, em mais de 24 mil empresas, ou seja, 2% do tecido empresarial nacional.
É na indústria de base florestal que se concentra a maioria do emprego e das empresas do sector, em comparação com a silvicultura e o comércio. Em proporção, em 2016, as indústrias empregavam 62% das pessoas ao serviço e representavam 41% das empresas do sector.
Apesar da sua importância, estas indústrias têm assistido, ano após ano, ao encerramento gradual de empresas. Em seis anos – de 2012 a 2017 – perderam-se 1272 empresas na economia da floresta, de acordo com as Estatísticas Setoriais sobre as Indústrias da Fileira Florestal, sob responsabilidade da Direção-Geral de Atividades Económicas.
Ainda assim, depois de dois anos de queda em 2012 e 2013, o número de empregos seguiu a tendência inversa e entre 2014 e 2017 registaram-se mais 5265 pessoas ao serviço no sector. Isto significa que o tecido empresarial está a diminuir, mas continua a criar (e incrementar) postos de trabalho.
Estas são indústrias pulverizadas em microempresas, com predomínio evidente nas regiões Norte e Centro do país. Cerca de 86% das quase 10 mil empresas industriais de base florestal têm menos de 10 pessoas ao serviço, enquanto as grandes empresas (com 250 ou mais pessoas ao serviço) representam apenas 0,2% do total.
Em termos geográficos, a região Norte e a região Centro contam com, respetivamente, 5661 e 2291 empresas industriais (80% dos empregos do sector).
Sabe-se, no entanto, que estas indústrias, constituídas por pasta e papel, cortiça, madeira e mobiliário (excluindo o fabrico de colchões), agregam subsectores com realidades bastante diferentes. Uma análise mais detalhada a cada um destes subsectores dá conta de que, em 2017, a grande maioria dos empregos e empresas residia nas indústrias ligadas à madeira (20351 empregos em 4135 empresas) e mobiliário (30648 empregos em 4356 empresas). Estes são, no entanto, os subsectores que mais têm perdido empresas ao longo do tempo: o da madeira perdeu 746 empresas entre 2012 e 2017, enquanto o do mobiliário reduziu em 457.
De destacar ainda o subsector da Pasta e Papel que, com um número muito menor de empresas (575), consegue empregar mais de 11 mil pessoas. Este é um valor das Estatísticas Setoriais sobre as Indústrias da Fileira Florestal que traduz a dimensão das empresas nesta atividade.
51% das empresas de fabrico de pasta, de papel e cartão (exceto canelado) têm, efetivamente, menos de 10 pessoas ao serviço, mas há 24% de empresas que têm entre 50 e 249 pessoas ao serviço. Estes são números bastante diferentes da indústria da madeira, por exemplo, em que 90% das empresas contam com menos de 10 efetivos.
Distribuição geográfica das empresas industriais de base florestal, 2017
A criação de valor nas florestas – com a consequente criação de empregos – é essencial para a proteção do território. O despovoamento das áreas rurais e o progressivo abandono da floresta originaram extensas áreas que carecem de gestão e apresentam elevado risco de propagação de incêndio. Aumentar a rentabilidade da floresta e o valor das atividades florestais permite contrariar a tendência de abandono rural e trazer novas oportunidades de desenvolvimento a estas regiões.
Em pouco mais de 10 anos (de 2004 a 2017), mais de 20 mil postos de trabalho florestal foram perdidos no sector florestal. No entanto, certos subsectores têm conseguido inverter a tendência e dar mostras de crescimento no emprego criado. É o caso da silvicultura, que quase duplicou o número de empregos neste período, mas também do sector da pasta, papel e cartão, que tem conseguido manter, em média, 10 a 11 mil empregos.
Com um crescimento inegável de 2012 a 2017 – tanto em termos de emprego, como de empresas –, a silvicultura e exploração florestal trazem um contributo valioso ao tecido empresarial ligado à floresta. No intervalo destes cinco anos, mais 7370 pessoas e 4107 novas empresas reforçaram o subsector.
As atividades ligadas à silvicultura e exploração florestal dão conta de uma elevada pulverização: em 2017, cada empresa empregava, em média, duas pessoas. De frisar, no entanto, que o trabalho de silvicultura (assim como o trabalho agrícola) é muitas vezes sazonal e informal, pelo que estas estatísticas podem estar aquém da realidade no terreno.
Os empregos direta e indiretamente derivados da floresta não se esgotam na indústria, silvicultura e comércio. Atividades como a caça, a pesca ou os serviços ambientais estão ligadas, em grande parte, aos ecossistemas florestais, demonstrando que o impacte e valor da floresta vão além dos bens transacionáveis. Em 2017, estavam contabilizadas mais de 1000 pessoas ao serviço da caça e pesca. Os bens e serviços ambientais foram responsáveis, em 2016, por mais de 4000 postos de trabalho.
SAIBA MAIS AQUI.