O “Notícias de Vouzela” assinala hoje os seus 85 anos de existência ao serviço da informação que recolhe na região e espalha pelo país e pelo mundo, levando aos seus concidadãos que labutam em terras a perder de vista, muitas vezes para além dos mares e da imaginação, o abraço fraterno que as suas terras de origem lhes enviam através de nós. A história, se ciência e quando ciência, preenche-se com os grandes feitos que marcam os destinos do mundo. Os jornais, sobretudo os afectos às regiões, esses destacam os feitos que preenchem o dia a dia de quem nelas vive e que alimentam a imaginação e a saudade de quem nelas viveu e um dia teve de partir.
O “Notícias de Vouzela” cumpre este desígnio há 85 anos. Com altos e baixos, mais afoito umas vezes, mais receoso noutras, tem assegurado essa função graças ao trabalho, à entrega e dedicação de muita gente, repartida por gerações sucessivas que à sua vida pessoal e familiar retiraram tempo e trabalho para garantir que o Jornal se cumprisse, edição atrás de edição.
Permitam-nos, pois, que nesta data, saúde, recorde e agradeça a todas essas pessoas, humildes, discretas e recatadas, esse tempo de vida e esforço que dedicaram a uma causa que é importante para os países, para as regiões e para as pessoas, como o é a causa da informação, séria e livre, como o é a causa da liberdade, como o é também a causa da defesa dos interesses das regiões desfavorecidas e da sua gente nem sempre ouvida, valorizada ou até respeitada.
Nessas diferentes gerações liderantes do Jornal, incluímos esses –tantos e tantos – Correspondentes e demais Colaboradores que às páginas do Jornal trouxeram, e continuam a trazer, milhares de páginas nascidas no largo da terra, na Igreja da paróquia, nas Associações existentes, no Clube da terra, nas entidades que marcam o ritmo da passada colectiva de cada lugar.
Sem esse esforço este projecto editorial não teria sido possível, obviamente. Mas também o não teria sido se não tivesse podido contar ao longo de tantos anos com a colaboração, a amizade, o carinho, o apoio de milhares e milhares de pessoas que ao longo dos anos se foram fazendo Assinantes do Jornal, substituindo-se uns aos outros nesta cadência implacável da vida que, num abrir e fechar de olhos, nos torna dispensáveis e nos assinala ser tempo de partida. Foram esses Assinantes que, aldeia após aldeia,
freguesia após freguesia, país fora e mundo além, se tornaram mensageiros do nosso espaço de Lafões, levando para o lado de lá da terra e dos mares, a mensagem de quem somos, do que fazemos, do bom que temos para lhes oferecer. Duvidamos que haja, no país ou noutros países, jornal tão humilde que percorra tanto mundo, que se deixe ler em tanto lado, que abrace tanta família em terras tão distantes umas das outras, espalhadas por cerca de 20 países diferentes e afastados entre si, por onde o “Notícias de Vouzela” se concretiza e realiza em cada dia, andando de mão em mão, emprestado de família em família, encostado ao peito de quem um dia partiu, confiado num regresso que o tempo e as circunstâncias não mais permitiram.
Mas também não teríamos sido possível, nós “Notícias de Vouzela”, sem a colaboração amiga e o apoio indispensável do tecido económico da região, da mais pequena unidade económica às maiores empresas que nos escolheram como sua casa, que na medida das suas possibilidades e interesses anunciam em nós a realidade que são, os produtos que fabricam e os serviços que prestam, através de nós divulgam e dão dimensão aos seus projectos e às suas ambições, deixando na região uma fatia importante da riqueza que
geram e são o pão que muitos de nós comemos.
A uns e outros, a todos afinal, agradecemos em nome do Jornal que somos e na convicção de que o poderemos fazer em nome de toda a região e seus órgãos legítimos.
O “Notícias de Vouzela” assinala este 85º aniversário num ano terrivelmente difícil para o país, suas gentes e seu património empresarial. Vai para 4 meses que todos nós nos debatemos com uma crise terrível, daquelas que a natureza repete quase de século em século, numa cadência que fala uma linguagem que a humanidade não conseguiu, nem consegue ainda, entender. Se Jornal somos ainda, se
estamos aqui a assinalar mais este aniversário, isso deve-se em primeira linha, em grande medida e na sua maior dimensão, ao mais fantástico movimento de apoio de que temos conhecimento no país e no mundo, alguma vez dispensado a um projecto editorial. Não temos registo, nem simples conhecimento, de que alguma vez um Jornal tenha congregado em seu redor uma tão forte reacção de apoio como foi aquela que se fez sentir em redor do “Notícias de Vouzela”, quando de uma semana para a outra se viu sem um tostão que lhe suportasse a continuidade, que lhe valesse até que melhores dias surgissem. Essa reacção, esse apoio, ficarão a constituir um dos mais belos, nobre e fantásticos pilares da condição humana das gentes de Lafões, que da rua vizinha, ou do outro lado do Mundo, nos fizeram chegar meios, palavras, incentivos que são a mais linda história de amor da imprensa portuguesa, disso estamos convencidos. A esse extraordinário movimento ficaremos eternamente devedores e gratos em cujo favor penhoramos a nossa promessa de, enquanto saúde houver, trabalho e sacrifício não regatearemos ao “Notícias de Vouzela”, projecto que à região e suas gentes pertence e que sirvo na humildade dos meus préstimos.
É cedo ainda para podermos garantir o nosso futuro e cedo também para retomarmos a regularidade semanal que esperamos conseguir, mais normalizada que seja a vida económica do país e do mundo. Pedimos por isso, aos Assinantes que ainda não tiveram oportunidade de o fazer, o favor de não se esquecerem de nós. À região, através dos seus extraordinários autarcas e empresários, levamos com humildade e verdade, a situação difícil que vivemos, sabendo quão difícil é também o dia a dia da sua própria luta. Reforcemos em conjunto o ânimo que nos restar, partilhemos uns com os outros os sinais de estímulo que nos façam dar sentido aos sacrifícios que nos estão a ser exigidos, saibamos fazer circular entre nós os sinais de esperança por que ansiamos. Façamos de Lafões o campo de batalha que em Waterloo encheu de honra, sangue e orgulho, milhares de soldados que, caídos no chão, ao seu país, à sua terra e à sua família, dedicaram, em pensamento, os seus últimos instantes de vida.
Lino Vinhal