VOUZELA, 17 de Janeiro de 2025
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Dia Mundial da Consciencialização do Autismo assinala-se hoje

2 de Abril 2022

O Dia Mundial da Consciencialização do Autismo é comemorado no dia 2 de abril, data definida pela Organização das Nações Unidas, cujo objetivo prende-se com a necessidade de esclarecer as pessoas sobre o Autismo. Estima-se que cerca de 1% da população mundial, ou seja, 70 milhões de pessoas, sendo que, a maioria destas crianças, apresenta algum traço do Espetro do Autismo. A incidência é, geralmente, maior no sexo masculino, tendo uma relação de 4 rapazes para cada rapariga, afetando cerca de 1 em cada 150 crianças.

O Autismo ou Transtorno do Espetro do Autismo pertence a um grupo de distúrbios do desenvolvimento neurológico que afeta o processamento das informações a nível cerebral, alterando a forma como as células nervosas e as sinapses se organizam. Contudo, a forma como este processo ocorre ainda não é bem compreendido.  É designado de espetro uma vez que não existe só um tipo de Autismo, mas sim diversas classificações do mesmo, sendo uma condição permanente que vai acompanhar a pessoa por todas as etapas de vida.

Os primeiros sinais e sintomas estão geralmente presentes no decorrer dos primeiros anos de vida. No entanto, os traços característicos do espetro são abrangentes e extensos, variando tanto sob a perspetiva sintomática quanto o grau de comprometimento, o que colabora para que a etiologia seja ainda incerta. Essencialmente, o Autismo altera a forma como uma criança vê e experiencia o mundo à sua volta, caracterizando-se por um comprometimento ao nível de três domínios: interação social, comunicação e comportamento. Deste modo, os sintomas podem ser exteriorizados de maneiras bastante particulares de pessoa para pessoa, mas todas elas partilham dificuldades semelhantes com intensidades diferentes. Tudo isso vai influenciar como cada pessoa se relaciona, expressa e comporta.

A sintomatologia mais significativa, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, centra-se numa personalidade marcada pela dificuldade em estabelecer relações e interações socio-afetivas, expressões faciais e corporais, expressar ideias e reconhecer as próprias emoções e sentimentos, assim como dos outros, projetando-se em alterações na comunicação verbal e não-verbal. Pode traduzir-se também em dificuldade em estabelecer o contacto visual e com a realidade envolvente; interesse compulsivo por algo específico; comportamentos restritivos e repetitivos (como por exemplo, ficar muito tempo sentada a balançar o corpo); impulsividade; comportamentos agressivos; dificuldades na aprendizagem; hiperatividade; dificuldade na adaptação a lugares estranhos; resistência à mudança, incluindo de rotina; isolamento social e desatenção. Podem também apresentar um aumento da sensibilidade sensorial, acometendo um ou mais sentidos (visão, tato, paladar e olfato) e uma hipersensibilidade a estímulos, reagindo de maneira excessiva a sons, luzes, toques, sabores, cheiros, entre outros. Por outro lado, podem apresentar habilidades impressionantes, como a capacidade para aprender visualmente, ampla capacidade de memorização, atenção e exatidão e grande capacidade de foco e concentração numa área de interesse específica.

Atualmente acredita-se que o autismo pode estar relacionado com fatores de risco de origem genética, hereditária e ambiental, seja idade avançada dos pais, complicações durante a gravidez e parto (prematuridade, gestações múltiplas e baixo peso ao nascer e) e gestações com intervalo inferior a 1 ano.

Geralmente, o diagnóstico é realizado entre os 2 e 3 anos de idade, onde a criança, avaliada por um Pedopsiquiatra, deverá apresentar alterações nas três áreas que esta síndrome afeta: interação social, alterações comportamentais e alterações na comunicação. Contudo, não é necessário apresentar uma vasta lista de sintomas já que a doença se manifesta em diferentes graus de comprometimento.

Quando a família recebe o diagnóstico de Autismo, é como se os pais sofressem um processo de luto pelo filho idealizado, pelos sonhos e pelas perspetivas nutridas para essa criança, sendo permeado por sentimentos de culpa, desespero, insegurança, negação, medo, desesperança e tristeza. Perante isso, é necessário que exista uma aproximação e compreensão por parte da família funcionando como suporte social, estrutural e emocional; e por parte dos profissionais de saúde que devem oferecer conhecimentos técnico-científicos atualizados e suporte emocional e empático. Neste sentido, apesar de todos os pensamentos e sentimentos negativos em torno deste diagnóstico, os pais e a família devem compreender a importância de encarar, acolher e conhecer o Autismo, uma vez que a criança vai precisar da sua ajuda para a proteger e superar as dificuldades e desafios inerentes ao transtorno, devendo ser resilientes e mobilizar-se em prol do melhor para o seu filho. A inclusão deve, assim, iniciar tanto no ambiente familiar como no ambiente escolar pois serão nestes dois espaços que a criança se irá desenvolver e conviver, pelo que deverá ser acolhida, aceite e respeitada pelas suas individualidades.

A família representa um espaço de socialização e torna-se, portanto, um local de relevante importância na compreensão do desenvolvimento humano, onde se expressam os primeiros comportamentos, cidadania, crescimento individual e de grupo, estabelecimento de vínculos afetivos, responsabilidade e construção da personalidade. Deste modo, e dentro da perspetiva de alguém com necessidades especiais, torna-se ainda mais necessário que a família, considerada uma conjunção indispensável no auxílio para o estabelecimento das relações sociais e afetivas das crianças com Autismo, seja considerada parte integrante e fundamental deste processo e ajudada de maneira a saber atuar nas diversas situações individuais do Espetro do Autismo.

O processo de tratamento do Autismo passa também por acompanhar as necessidades da criança e da família e consiste em estimular o desenvolvimento social e comunicativo, aprimorar a aprendizagem e a capacidade de solucionar problemas, diminuir comportamentos que interferem na aprendizagem e no acesso às oportunidades de experiências do quotidiano e potenciar a autonomia e integração. Deve ser vitalício, reavaliado assiduamente e adequado ao tipo de Autismo que a criança apresenta e do grau de comprometimento, podendo abranger o recurso a sessões de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional, terapias comportamentais cognitivas, terapias de grupo e farmacologia.

Em Portugal, existem algumas estruturas dedicadas a esta realidade com a missão da defesa incondicional dos direitos das pessoas com Perturbações do Espetro do Autismo como a Federação Portuguesa do Autismo, assim como outras entidades ao longo do país que oferecem diversos serviços centrados no tratamento e em dar resposta às necessidades das pessoas com Espetro do Autismo: a Vencer Autismo, a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo com sede em Lisboa, Setúbal e no Norte e a Associação de Amigos do Autismo.

 

Daniela Gomes (Estudante de Enfermagem, ESSV)

Carolina Santos (Enfermeira, UCC Lafões)


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