A coexistência entre o lobo ibérico e as pessoas é o foco de doutoramento de Dário Hipólito, que disse hoje à agência Lusa que andou na região de Lafões a perceber quais os problemas causados pela presença deste animal.
“O principal problema é o ataque ao gado doméstico, sendo que não há registos atuais da quantidade de ataques ou de animais que são vítimas, porque as pessoas têm de reportar os danos na plataforma, mas em meios mais rurais o acesso às tecnologias acaba por ser mais difícil”, apontou Dário Hipólito.
Natural da região de Sintra, Dário Hipólito é bolseiro de investigação, desde 2016, na Universidade de Aveiro e, desde 2020, que trabalha no doutoramento no departamento de Biologia, em Aveiro, e também em Veterinária, na Croácia.
O foco do doutoramento “é a coexistência entre o lobo e as pessoas e tentar encontrar as melhores estratégias para a coexistência de ambos”, uma vez que percebeu no terreno – desde 2018 que faz a monitorização deste animal – “a necessidade de um maior apoio às populações e um maior contacto para diminuir os conflitos existentes”.
Depois de oito ações em diferentes concelhos da região de Lafões e Montemuro, “em áreas onde o lobo está mais presente e os conflitos acabam por ser maiores”, Dário Hipólito explicou que o objetivo é chegar a outras zonas.
Com os dados que anda a recolher no terreno, e que vai continuar a recolher a partir de maio, depois de regressar da Croácia, vai “tentar arranjar uma estratégia, seja local ou mais regional, para trabalhar uma solução para ajudar as pessoas”.
Os censos dos últimos anos apontam para a presença de lobos nos concelhos de São Pedro do Sul, Castro Daire, Cinfães, Resende, Lamego (distrito de Viseu), Arouca e Vale de Cambra (distrito de Aveiro).
Apesar de reconhecer que “o maior problema é a presença do javali e os danos nas colheitas”, Dário Hipólito disse que as pessoas queixam-se muito do acesso às plataformas e mecanismos para o pedido de indemnizações”.
Entre os assuntos mais debatidos nas ações estão “também os mitos que se espalham com muita facilidade, como a de largadas de lobos, que não existem”, ou “os ataques a pessoas que também não são verdade”.
“Os lobos têm medo e fogem, e, por isso, não há risco de as pessoas serem atacadas por lobos. Há muitas histórias, que ouviam em crianças, mas não passam de mitos que passaram de geração em geração, muitas das vezes para manter as crianças junto das residências”, explicou.
Entre as ferramentas de proteção que Dário Hipólito partilha estão as “cercas com o mínimo de 1.80 metros de altura, cães de gado, devidamente protegidos com uma coleira própria, e a presença de um pastor, quando o gado anda a pastar livremente” na serra.
“Ultimamente, as pessoas têm-se queixado que em zonas de mato muito denso, onde o gado anda a pastar, os lobos têm-se aproximado mesmo durante o dia com maior facilidade, porque, muitas das vezes, as pessoas nem sequer têm cão de gado ou, quando têm, são zonas de difícil visibilidade e a proteção acaba por ser mais difícil também”, precisou.